7 de dezembro de 2009

O corpo dela era de uma beleza sofrida, disso estava certo. O colar de pedras negras no pescoço contrastava com a pele pálida.
Se Deus existe, ela certamente fora feita pelas Suas mãos.
Na solidão da infância era daquelas que se escondia debaixo da cama por horas, vidas inteiras só observando as sombras movimentarem-se em conversas que nada entendia. Passavam-se séculos, e ela deitada no chão. Gostava de sentir-se coadjuvante naquele mundo de loucos que tanto observava - vinha daí seu prazer na dor.
Ali estava; beleza dissimulada da juventude, mulher feita. A alma ainda sozinha, como se estivesse debaixo de alguma cama qualquer. Porém, o prazer não era mais o mesmo. A dor na sua forma mais plena: segurava o colar como a um terço, e a cada miçanga que passava por entre os dedos, mais distante ficava da Ave Maria. Deus, Ele não existia.