30 de setembro de 2008

Nossa devassidão

Estariam todas as prosas esvaindo-se líquidas pelos vértices de nossos lábios? Juramentos e intentos que constituíam nossas esperanças hoje são as substâncias que vivificam nossa desilusão, pelo simples fato de não terem chego a tornar-se motivo de glorificação. Apenas objeto de falsa fé. Mesmo ferida e com a face submersa em líquido pegajoso te proponho um último ensaio para o nosso crime perfeito. Juntemos nossos cantis para aparar o ácido úrico, agora escorrendo em nossa pele, e reforçar a bendita (maldita) aliança. Afinal, uma garota devassa sempre pede bis.

18 de setembro de 2008

relato de uma manhã corriqueira

As gargalhadas alheias escorreram, gato preto, pelos ouvidos.
Uma redoma
lotada de vidas risonhas, e o seu mundo era reduzido a um pingo verde dentro do
peito. Doído. Choramingando a necessidade de um amor que pudesse ser
injetado.
Heroína, estralando cada célula até provocar o clic do orgasmo. E
aí então seria contínuo, pois uma garota devassa sempre pede bis.

16 de setembro de 2008



A iluminação minimizada pela seda fosca da cortina presa a janela envolvia os corpos nus, que dormiam em uníssono naqueles lençóis cintilantes de suor. De pouco em pouco ela abria os olhos pós-orgasmo como que para ter certeza de que a paisagem continuava igual, era a guardiã daquele amor ensaiado em prosa poética de Anaïs Nin. Ah, se ele soubesse as horas que passava a fitá-lo dormindo, seu peito subindo e descendo, desejando que pulsasse por ela. Verificou o relógio. O êxtase interrompido pelos compromissos do dia-a-dia pesou nas pálpebras. Já era hora, boy. Beijou-o com a boca que na madrugada, agora diluída no céu, passou aberta, gemendo em uníssono e foi-se embora com as pernas cansadas, cambaleantes, querendo ficar.
(foto por Henry Cartier Bresson)

14 de setembro de 2008



Olhos de faraó num semblante latino,
Vem febril, meu menino.
Vem em místico mistério
que a astrologia está a nosso favor.
Vem, que eu vou te contar
da solidão que já fui,
das mortes minhas a te esperar.
Vem, que eu te quero rendido.
Não tenha medo, meu menino
que eu vou te perder nas pernas minhas
e encontrar nos braços meus.
E se errei foi por medo;
vem de pressa, menino
que tenho pressa de carinhos teus.

11 de setembro de 2008

...quantas máscaras falantes perfeitamente dispostas em seus assentos.
Cririlando qualquer coisas rotineira e não vivem, simplesmente existem.
Existem porque nasceram e não porque buscam um estado de consciência elevada,
tornar-se aquariano. Provavelmente nem tem um déjà-vu, ou se tem não se
dão conta de que isso sim é uma falha no sistema do seu bio rascunho.

8 de setembro de 2008

(Ir)real (ir)reversível

A realidade chega a ti com outras formas, deformidade pontiaguda que te fere a moral. Não me culpo mais pela tua vida rubra a derramar, visto que tu afiasses a navalha que te corta. Eu apresentei-a tesoura sem ponta a ti, sabendo da tua condição infantil e desprotegida. A transformação do real em pesadelo ficou a teu critério. A mão que te apunhala é a tua própria, minhas digitais permeiam apenas a adaga por qual morres.

4 de setembro de 2008

Não foi feliz estar com você querido. Sorry mas essa história
de "sexo porção única" não faz meu
estilo. É aquela história feminista tão cheia de teias: a autonomia sobre o
corpo. Apesar dos átomos serem repassáveis e reutilizáveis, no momento me
compõem. Sendo assim decido o que respinga em mim.

1 de setembro de 2008

30/08/08 - Noite. As violetas azuis estampam o lado direito do cobertor esticado na cama. 2 copos d'água enfeitam a mobília.
31/08/08 - Mañana. O avesso do cobertor colore o quarto: bolinhas vermelhas atiradas pelo chão. 2 corpos cansados. 1/2 copo d'água sobre o balcão arrastado pelo assoalho. Mobília tombada, conceito erguido: m-u-l-h-e-r.