3 de janeiro de 2010

Efêmero.

Transcreva-me em palavras o que estes dias retrataram, meu bem. Despeça-te das lembranças que te afligem e renove a tua alma, porque é de princípios quesupostamente se faz um ano.
Eles te faltam, então? (Me questiono até quando tu serás tão previsível.)
Esse pescoço caucasiano a mostra não faz de ti uma mulher atrevida, como tu pensas. O mundo vê através da tua face que tua arrogância não passa de um mero pretexto para se esquivar da realidade.
Não te iluda mais uma vez, – tuas memórias são equívocas e tuas palavras discrepantes – perder tua presunção não faz de ti um ser fraco.
Admita: Dentro dessa caixa de metal posicionada em seu peito ainda existe sangue quente pulsando. – E pulsa tão intensamente que te faz vacilar.
Teus lábios contrariam teus sentimentos – os acontecimentos dos últimos trezentos e sessenta e cinco dias não foram efêmeros, tu sabes disso – e tu expulsas entre dentes revés.

7 de dezembro de 2009

O corpo dela era de uma beleza sofrida, disso estava certo. O colar de pedras negras no pescoço contrastava com a pele pálida.
Se Deus existe, ela certamente fora feita pelas Suas mãos.
Na solidão da infância era daquelas que se escondia debaixo da cama por horas, vidas inteiras só observando as sombras movimentarem-se em conversas que nada entendia. Passavam-se séculos, e ela deitada no chão. Gostava de sentir-se coadjuvante naquele mundo de loucos que tanto observava - vinha daí seu prazer na dor.
Ali estava; beleza dissimulada da juventude, mulher feita. A alma ainda sozinha, como se estivesse debaixo de alguma cama qualquer. Porém, o prazer não era mais o mesmo. A dor na sua forma mais plena: segurava o colar como a um terço, e a cada miçanga que passava por entre os dedos, mais distante ficava da Ave Maria. Deus, Ele não existia.

13 de novembro de 2009

Re-visto-me

Tirou-me a inocência, arrancou-me a dignidade e me fez sangrar.
Maldito libido púdico, fez-me tirar as vestes depois de alguns goles, ouvir sussurros eloqüentes e envolver-me em teu corpo quente.
Os sentimentos já haviam sido esquecidos àquela hora, somente os desejos da carne importavam.
Amor? Afeto? Nada disso fazia sentido. A verdade é que queríamos ter a noite mais prazerosa da nossa juventude e nada mais importava.
Olhei pela janela e já era hora. A madrugada já estava desfeita e vi teu corpo lívido perdido entre os cobertores e lençóis amarrotados, sua respiração estava relaxada. Parecia até inocente, não perverso como esteve nas últimas quatro horas. Não havia mais respirações ofegantes misturadas com gemidos oprimidos.
Fitei-o mais uma vez. A última.
Pintei os olhos cansados com cajal preto e a boca em tom provocante, penteei os cabelos desgrenhados com os dedos e acendi um cigarro.
Eu poderia ficar ali pelo resto da vida, se quisesse... Mas juntei meu orgulho e fechei a porta.

10 de novembro de 2009

volto, revolto; (Re)volto

360 dias e lá vai pedrada cessaram-me antigos desejos.
360 dias e algumas muitas fodas a mais esfomearam-me - por pratos requintados; jantares à luz de velas. Meu paladar aguçou-se, boy. Minhas lingeries encareceram e seus elásticos estão mais fortes, flexíveis apenas a minhas vontades.
Teus braços caucasianos jamais me tomaram a força - nem nos velhos tempos, diga-se de passagem. Eu me rendi, quando me rendi, por conta própria e a meu bel-prazer. O porquê dessas sinceridades inesperadas (inapropriadas)? O fato é que cansei de alimentar falsos frissons.
Diamonds are a girls best friend serve só para desviar a atenção da verdade impudica; o que nós precisamos sempre a tiracolo são aquelas calcinhas, nossas benditas.

29 de outubro de 2008

Suga-me pra ti, porque de ti tenho sede quente. Mas não mente que me ama se eu sei que teu amor só a ti pertence. E sinceramente, não te desgosto por isso, considerando que me embebo no mesmo licor enveludado de amor individual. E pra finalizar como uma boa Garota D.: merecemos mesmo ser assim, malditas mulheres de benditas langeries com rendas delicadas e fortes elásticos nem tão flexíveis.

30 de setembro de 2008

Nossa devassidão

Estariam todas as prosas esvaindo-se líquidas pelos vértices de nossos lábios? Juramentos e intentos que constituíam nossas esperanças hoje são as substâncias que vivificam nossa desilusão, pelo simples fato de não terem chego a tornar-se motivo de glorificação. Apenas objeto de falsa fé. Mesmo ferida e com a face submersa em líquido pegajoso te proponho um último ensaio para o nosso crime perfeito. Juntemos nossos cantis para aparar o ácido úrico, agora escorrendo em nossa pele, e reforçar a bendita (maldita) aliança. Afinal, uma garota devassa sempre pede bis.

18 de setembro de 2008

relato de uma manhã corriqueira

As gargalhadas alheias escorreram, gato preto, pelos ouvidos.
Uma redoma
lotada de vidas risonhas, e o seu mundo era reduzido a um pingo verde dentro do
peito. Doído. Choramingando a necessidade de um amor que pudesse ser
injetado.
Heroína, estralando cada célula até provocar o clic do orgasmo. E
aí então seria contínuo, pois uma garota devassa sempre pede bis.

16 de setembro de 2008



A iluminação minimizada pela seda fosca da cortina presa a janela envolvia os corpos nus, que dormiam em uníssono naqueles lençóis cintilantes de suor. De pouco em pouco ela abria os olhos pós-orgasmo como que para ter certeza de que a paisagem continuava igual, era a guardiã daquele amor ensaiado em prosa poética de Anaïs Nin. Ah, se ele soubesse as horas que passava a fitá-lo dormindo, seu peito subindo e descendo, desejando que pulsasse por ela. Verificou o relógio. O êxtase interrompido pelos compromissos do dia-a-dia pesou nas pálpebras. Já era hora, boy. Beijou-o com a boca que na madrugada, agora diluída no céu, passou aberta, gemendo em uníssono e foi-se embora com as pernas cansadas, cambaleantes, querendo ficar.
(foto por Henry Cartier Bresson)

14 de setembro de 2008



Olhos de faraó num semblante latino,
Vem febril, meu menino.
Vem em místico mistério
que a astrologia está a nosso favor.
Vem, que eu vou te contar
da solidão que já fui,
das mortes minhas a te esperar.
Vem, que eu te quero rendido.
Não tenha medo, meu menino
que eu vou te perder nas pernas minhas
e encontrar nos braços meus.
E se errei foi por medo;
vem de pressa, menino
que tenho pressa de carinhos teus.

11 de setembro de 2008

...quantas máscaras falantes perfeitamente dispostas em seus assentos.
Cririlando qualquer coisas rotineira e não vivem, simplesmente existem.
Existem porque nasceram e não porque buscam um estado de consciência elevada,
tornar-se aquariano. Provavelmente nem tem um déjà-vu, ou se tem não se
dão conta de que isso sim é uma falha no sistema do seu bio rascunho.

8 de setembro de 2008

(Ir)real (ir)reversível

A realidade chega a ti com outras formas, deformidade pontiaguda que te fere a moral. Não me culpo mais pela tua vida rubra a derramar, visto que tu afiasses a navalha que te corta. Eu apresentei-a tesoura sem ponta a ti, sabendo da tua condição infantil e desprotegida. A transformação do real em pesadelo ficou a teu critério. A mão que te apunhala é a tua própria, minhas digitais permeiam apenas a adaga por qual morres.

4 de setembro de 2008

Não foi feliz estar com você querido. Sorry mas essa história
de "sexo porção única" não faz meu
estilo. É aquela história feminista tão cheia de teias: a autonomia sobre o
corpo. Apesar dos átomos serem repassáveis e reutilizáveis, no momento me
compõem. Sendo assim decido o que respinga em mim.

1 de setembro de 2008

30/08/08 - Noite. As violetas azuis estampam o lado direito do cobertor esticado na cama. 2 copos d'água enfeitam a mobília.
31/08/08 - Mañana. O avesso do cobertor colore o quarto: bolinhas vermelhas atiradas pelo chão. 2 corpos cansados. 1/2 copo d'água sobre o balcão arrastado pelo assoalho. Mobília tombada, conceito erguido: m-u-l-h-e-r.

30 de agosto de 2008

aquele gato deitado no sol, esticado, deliciosamente retorcido parecia
morto. Mas pra falar bem a verdade e acabar com essa merda toda, ele deve estar
mais vivo do que eu. Das minhas 7 vidas acho que já usei umas 10.
saldo negativo
é normal no mundo humano. você me deve também.

28 de agosto de 2008

um quarto à meia luz

tinha algo estranho pairando no ar naquela tarde, cara. um dia cinzento como qualquer outro dia nublado e as duas encolhidas jogadas pelos cantos daquele quarto. palavras vazias voavam de uma à outra causando-lhes espasmos. escondiam seus corpos maculados debaixo de fantasias transparentes. sabiam de tudo e não queriam saber de nada. a atmosfera cinzenta alternava solidez e ausência. solidez e ausência. elas estavam enlouquecendo. o silêncio instalou-se no quarto e por lá permaneceu uns quinze minutos, sentiram décadas se arrastando a passar, depravando suas mentes castas. queria urrar. quebrar aquele muro de vidro que as separava. a outra foi mais rápida: desista, baby, a porra desse amor lésbico vai devorar nossas entranhas. a partir de então não via mais uma carne branca desconhecida desmaiada numa aresta qualquer daquelas paredes. ela era a sua imagem e passou a amá-la com algo mais que amor próprio.

27 de agosto de 2008

troco-te, solitude.

ela não me queria mais.
preferiu um baby boy que
trocou-a por uma
garrafa de
cerveja e un cigarette.
rejeitada ligou-me carente e eu
disse:
-Não. não te quero mais, tua
madrugada já passou.
então ela
me cortou seca:
-Esse romance lésbico não
passou de uma foda
noturna
que esvaiu-se, liquido pegajoso,
por entre nossas pernas.

26 de agosto de 2008

malditas sejam

púdicas calcinhas roçam-me os pés
beijam-me os pêlos
negam aos meus apelos.
brancas,
sujam meus desejos
manchá-las queria
com o sangue de seus anseios.
líquido na carne casta
não mais intocada caverna nefasta
causas de meu jorrar pelas madrugadas;
malditas calcinhas avermelhadas.